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Aquele preto

Laudeir Borges

Gritos lá fora:
pega ladrão! pega ladrão!
Sobressalto,
da cama à janela,
sons de corrida:
atacou a dona!
Me atacou – ela diz.
Rebuliço, seis e trinta:
pegamos, safado!
Cala a boca, fica quieto!
Fica lá:
deitado no concreto,
barriga pra baixo.
Olho pra baixo,
o pátio entre os prédios:
dois homens e o homem,
cara no chão,
mãos amarradas pra baixo,
pés amarrados pra cima:
bicho caçado e laçado.
Safado!
Assaltando mulher!
Saem os homens.
Fica o homem.
Vem polícia,
dois polícias,
mais dois polícias.
Mulher matinal
passeia o cachorro.
A mulher assaltada?
Tá se arrumando.
O amarrado fica
de bruços.
Volto pra cama, deito
de bruços.
Aquele preto amarrado sou eu!

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