Ir para conteúdo principal

Sinta-se em casa

Breno Alvarenga

1.
É um dia estranho. Não que nada de aborrecedor tenha acontecido, mas algo está fora de lugar; é como se estivesse, o tempo todo, à espera de alguém que não vai chegar. Agora mesmo, à tarde, assustei-me ao perceber que servia duas xícaras de café. Foi só quando exclamei “beba ou vai esfriar!” que dei-me conta de que falava sozinha. Por alguns minutos, tive a certeza de que meu velho Osvaldo me fazia companhia.
Belinha, minha cachorra, late insistentemente desde a sala de entrada. Por ser uma Yorkshire, raça de cachorros provenientes da Inglaterra, preza pela sutileza e pelo bom gosto, além de não suportar a falta de modos. Antes mesmo de chegar à sala, prevejo o motivo de seu ultraje. Aproximando-me dela, observo a rua pela grande janela de vidro. Três jovens mulheres e dois homens bebem cerveja, apoiando os copos em cima de um carro. Não entrarei em detalhes sobre a vestimenta dos cidadãos, pois envergonharia-me só de descrevê-la. Da mesma forma, a letra da música – podemos chamar isso de música? – é grotesca: a copulação, ato sagrado e secreto, torna-se escabrosa ao revestir-se de palavras tão chulas. Belinha, agora, late mais para mim do que para eles, cobrando-me alguma atitude. Ela tem razão: fomos nós quem deixamos isso acontecer.
Observo meu reflexo no vidro e assusto-me com o que vejo: sou muito mais velha do que pensava. Por algum motivo, a imagem que tinha de mim mesma era mais gentil e aprazível aos olhos. Meu reflexo faz com que sinta-me tal qual um fantasma, sem ser vista ou ouvida propriamente.
– Sabe quem morava ali, Belinha? – Comento. – O Doutor Afonso Rubião! Você se lembra dele? Ele quem curou mamãe da catarata…
Um homem muito correto.
Ela não se lembra, é claro. Cachorros, afortunadamente, têm memória curta. Vão embora deste mundo levando apenas cheiros. Eu, por exemplo, se parto hoje, levo comigo o rosto de Afonso Rubião dentro de um caixão. A morte dele me fez perceber como era uma idosa cuja vida era controlada por uma ampulheta. Um mês depois foi a vez de Sara Guedes.
– Um pouco desorientada, sabe? – Digo a Belinha, que segue rosnando.
– Mas uma mulher muito garbosa, elegante. Casou muito bem, ela.
No seu leito de morte, colocaram-lhe um vestido verde e reluzentes joias, estava praticamente pronta para um baile. Mas, sem a sua voz, as joias não brilhavam.
Observo lá fora uma das jovens rebolar enquanto olha para mim.
Ri como se fosse autêntica demais por ter coragem de ofender.
– Até de Sara tenho saudades… – Confesso a Belinha.

2.
Na mesa da cozinha, um verdadeiro banquete: pães, caldos, coxinhas e sonhos. Carmem, a empregada doméstica, é uma dessas profissionais que você acha só uma vez na vida e não pode largar. Ela tem esse costume de me fazer pequenas surpresas, mimando-me.
– Sonhos, Belinha. Carmem nos fez sonhos!
Parto um pedaço e dou a Belinha. Como esperado, para de rosnar e, subitamente, perdoa-me.
– Mamãe cozinhava sonhos todos os domingos. – Relembro, tentando fazer o doce durar na boca. Como são gostosas as memórias! Se pudesse, viveria nelas.
Ouço as badaladas do relógio. Conto-as e, percebendo que são seis, faço o sinal da cruz.
– Belinha, hoje não é domingo não, certo?
Lembro-me de ver a novela, e ela não passa aos domingos. Ou será que a vi ontem? Não é possível que eu tenha perdido a missa do Padre Flávio!
Novamente um barulho interrompe meus pensamentos. Desta vez, um ruído amedrontador: uma chave gira na fechadura da porta de entrada. Apavoro-me e sinto um arrepio se estender dos meus braços até a nuca. Meu coração pula em meu peito, e o suor começar a se formar em minhas mãos. Eu estava certa: Osvaldo está aqui!

3.
Caminho até a sala. Dou cada passo de forma calculada, tentando me lembrar dos assoalhos que rangem. Noto que a porta de entrada começa a ser aberta por uma presença; chego a ver o volume do corpo no escuro. Recuo e escondo-me detrás da parede. Não creio que seja Osvaldo! Tomo coragem e aproximo o rosto da extremidade da parede. Vejo, dentro da minha casa, um homem, de cerca de trinta anos, e uma criança, de cerca de doze. Têm a pele escura (não sei como me referir a eles nos dias de hoje). Usam chinelos e bermudas velhas.
– Pai, tem certeza de que ela não está em casa? – A criança sussurra.
– Tenho. Ela sempre vai à missa aos domingos. – Responde o adulto, examinando a casa.
Sim, Adelaide, hoje é domingo, sua tola! Meu coração bate tão acelerado que temo ter um infarto. Como sabem que eu deveria estar na igreja?!
O homem se ajoelha diante da criança.
– Meu filho, por favor, você precisa se comportar. – Soa aflito – Isto aqui é muito importante, e eu estou correndo contra o tempo.
– Mas eu quero ajudar! – Protesta a criança.
Horrorizo-me. Como pode uma criança estar envolvida em atos tão cruéis e indignos? Como pode um pai, tão cedo, envolver o filho com a criminalidade?
Para o meu pavor, noto que caminham em minha direção. Sinto um formigamento no pescoço e temo que não consiga andar. Sou uma estátua esculpida em medo. É o meu fim! Dou um passo cambaleante para o lado. Escoro as mãos na parede e dou um segundo passo. A cozinha não está tão longe. Como se habitado por outra pessoa, meu corpo ensaia uma corrida. Mais cinco desajeitados passos são dados: estou na cozinha. Sob a mesa, Belinha me encara com desdém. Parece julgar um exagero à minha reação a tudo aquilo.

4.
Aqui, detrás da porta, sinto-me mais segura. É um esconderijo improvisado pelo susto, mas só de ter uma camada de madeira diante de mim, passo a ter a esperança de sair viva.
Pela sombra na fresta da porta, sei que um deles também chegou à cozinha. Será que fui descoberta?
– Pai, posso comer um pouco? – Pergunta a criança, descobrindo o banquete preparado (para mim!) por Carmem.
– Não, Lucas. Eu acabei de te falar, não foi? – Responde o homem, desde o corredor.
– Mas eu estou com fome! – Chantageia a criança, que aparentemente se chama “Lucas”.
Há um terrível silêncio: o pai está considerando.

5.
Belinha mastiga um pedaço do pão, cedido a ela pelo garoto. Como pode a audácia dessa gente? Parecem fazê-lo para me provocar, ainda que não saibam que estou ali. Fecho os olhos. Não posso deixar que a raiva me faça perder o foco. O que vamos fazer, Adelaide? Como avisar Beatriz?
– Acredita que até hoje lembro da primeira vez que comi um sonho? – Ouço o homem dizer – Era um negócio de gente chique comer, sabe? Provei só quando adulto!
Olho para a cachorra, deitada no chão. Em pensar que, há dez minutos, éramos nós quem comíamos aqueles sonhos, Belinha!
A cachorra, no entanto, não me faz caso e, encarando a criança, parece negociar a proposta de divisão dos sonhos entre as três partes interessadas.
– Pega um pra você, pai. – Responde o garoto, caçoando dos meus pensamentos.
Aproximo o rosto da porta. Vejo o homem sorrir para o filho e, então, pegar um dos sonhos. Partindo-o em dois, cede metade do doce ao garoto. Até onde irão?
– Muito bom, né? – Pergunta.
– Uhum! – Responde o filho de boca cheia.
A invasão não lhes basta? Por que não acabam logo com isso e me deixam em paz? Belinha me encara e, por alguns segundos, creio que sorri. Quando foi que essa cachorra se tornou tão  petulante?
– Você se lembra de tudo o que eu te falei? Se ela chegar antes, você se esconde, tá bom? Ela não pode te ver de jeito nenhum!
O que exatamente aconteceria se nos víssemos? Será que, notando que sou uma idosa, repensarão o ato? Ou concluirão que não fará diferença roubar-me alguns meses de vida? Afasto-me em direção à parede, tentando esconder-me da segunda possibilidade.
– Tá bom, pai. Alguém vem te ajudar? – Questiona a criança, mastigando uma coxinha de boca aberta.
– Sim. Acho que em meia hora chegam aqui. – Observa o filho, atentamente – Vai dar tudo certo! Não precisa ficar nervoso, não.
Osvaldo empenhou-se tanto na construção desta casa e, agora, ela é tirada de mim diante de meus olhos. Preciso reagir, mas como ter coragem em pernas tão bambas?
– Lucas, agora já deu. Imagina se ela chega e não tem mais nada? – O homem diz.
– Mas tem muita comida ainda! – Protesta o pequeno usurpador.
– Mas eu preciso que quando ela chegue esteja tudo no lugar. Isso é importante!

6.
Agora, escuto os invasores no corredor que dá acesso aos quartos. Caminho, cuidadosamente, até a sala de estar. Olho para o sofá, onde estava sentada há algumas horas, e percebo que meu celular está ali. Tento visualizá-los: a criança está parada diante do banheiro e o pai digita algo no celular. Aproveito a distração e me apresso até o sofá, coletando meu celular. Pronto! Agora tenho chances de contornar esta situação. Retorno, ofegante, e encosto-me à parede que faz divisa com o corredor.
– Pai, posso tomar banho na banheira? – Ouço a criança exigir mais uma usurpação do meu bem-estar.
– Não, meu filho. Não te falei que a gente não está com tempo?
Faz-se um silêncio. Aquele mesmo silêncio que introduzia, para o meu desespero, uma negociação.
– Promete que vai ser rápido? – Pergunta o homem, como previsto.
– Prometo. – Responde a criança.
Escuto os dois entrarem no banheiro, fechando a porta. Aproveito a oportunidade para correr até o antigo quarto de Beatriz, que dá de frente para o toalete. Esqueço-me de ser cuidadosa e um dos assoalhos range como um urso baleado. No entanto, as torneiras da banheira, que agora jorram água, disfarçam minha desatenção. Observo o celular em minhas mãos e dou-me conta de que o número de Beatriz está escrito na parte traseira do aparelho em uma fita adesiva. Alegro-me com minha precaução. Já no breu do quarto, disco o número e aguardo, tremendo.
– Mamãe? Por que a senhora está me ligando? – Escuto do outro lado da linha minha filha. – Calma, onde a senhora está?!
– Beatriz, me ajuda! – Sussurro desesperada.
– Mamãe, pelo amor de Deus, onde a senhora está?
– Estou na minha casa. Tem alguém aqui. Ajude-me! – Sussurro novamente adicionando maior urgência.
– Mãe do céu… Calma que estou chegando aí! Não saia daí. Fica aí que eu estou chegando!
Desligo o celular e respiro aliviada.
Infelizmente meu alívio é fugaz e logo dilui-se em fúria: a criança gargalha na banheira – minha banheira vitoriana! –, provavelmente ensopando meu precioso banheiro.
– Pai, e se ela chegar e eu estiver aqui? – Pergunta.
– Se você ficar enrolando, isso vai mesmo acontecer. – Responde o pai, agora abrindo a porta .
O homem atravessa o restante do corredor e, como temia, adentra o meu quarto. Estaria Carmem envolvida nisso tudo? Sempre foi de muita confiança, mas a pobre mora em uma região muito violenta. Para essas pessoas a criminalidade é sempre um caminho muito tentador.
Aproximo-me do vão da porta e o vejo sentar em minha cama. Abrindo a gaveta da mesa de cabeceira, retira uma quantidade significativa de dinheiro. Eles sabem exatamente onde guardo tudo! Conta as notas e guarda-as no bolso. Em seguida, abre o meu guarda-roupa e retira de lá três lindos vestidos, o que me faz pensar que morrerei de camisola. Coleta, então, um colar, um brinco e anéis. Coloca tudo em cima da cama, separando-os para levar.
Belinha entra no quarto e rodeia o homem. Por que, só por hoje, ela não é uma Rottweiler, e sim uma Yorkshire tão mesquinha?
– Vamos ser amigos? Você promete ficar quietinho? – Diz o homem fazendo carinho em Belinha, que, por sua vez, abana o rabo, completamente vendida.
O celular do homem toca.
– Oi, Rogério? Já está chegando? – Diz, atendendo o telefone – Você tem dez minutos para chegar aqui, senão não vai dar tempo.
Beatriz, pelo amor de Deus!
– Você vem na caminhonete, né? – Segue o homem, agora, satisfeito com o que ouve. – Tá bom. Já estou com o seu dinheiro aqui. Você vai ficar lá fora vigiando se ela vai chegar, certo?
Assente e desliga o celular. Espero que Beatriz tenha chamado a polícia para acompanhá-la, não quero colocá-la em risco. Será que fiz certo em ligar para ela? Volto a suar nas mãos.
Meus pensamentos são novamente interrompidos, mas agora por um ruído que nunca fora tão bem recebido pelos meus ouvidos: a campainha toca.
Ainda no quarto, vejo o homem arregalar os olhos. Encara Belinha e parece combinar um pacto de silêncio. A criança corre até o quarto com a toalha amarrada na cintura.
– São os seus amigos? – Sussurra, amedrontada.
– Pedi que não tocassem a campainha – Responde o homem, distraído.
A campainha volta a tocar.
– Será que ela voltou mais cedo, pai?
– Venha – O homem pega a criança pela mão. – Vamos te esconder na sala.

7.
– Venha – Meu pai me pega pela mão – Vamos te esconder na sala.
Tentamos correr em silêncio, o que é uma tarefa muito difícil. Ao chegar à sala, percebo uma sombra no vão inferior da porta. Ela está lá! Sinto meu coração pular. Tenho uma súbita vontade de gritar, só para acabar logo com aquela tensão. “Pronto, estraguei tudo, estamos livres!”. Meu pai me dirige um olhar e leio nele a repetição de tudo o que já foi dito: “Esconda-se e não diga nada”. Obedeço e deito-me no chão. Agora só vejo o estofado do sofá cinza à minha frente.
Ouço meu pai abrir a porta. De lá, uma voz que não reconheço.
– Oi, Francisco – Escuto uma voz feminina dizer, fazendo uma pausa que parece durar horas. – Acho que a minha mãe está na sua casa de novo.

8.
– Esta é a minha casa! – Adelaide protesta. – A casa que eu e seu pai construímos!
Beatriz e Adelaide estão sentadas em um dos sofás, diante de mim e meu pai, no outro sofá. Beatriz segue constrangida, desde que a porta foi atendida, é a segunda vez que a senhora entra em nossa casa. Meu pai me explicou que ela morou aqui por muito tempo e que já não anda com a cabeça muito boa, por isso é preciso ter paciência e solidariedade.
– Não, mamãe. – Responde Beatriz com o mesmo tom de voz de papai ao contar-me da morte da vovó. – Nós vendemos esta casa para o Francisco, lembra? Agora a senhora mora comigo, na rua de cima.
– Eu moro aqui! – Grita Adelaide, fazendo-me arrepiar.
Beatriz sorri e a abraça de lado, como se a senhora tivesse dito algo engraçado.
– Desculpe-me, Francisco. Ela fica voltando nessas lembranças e não há nada que a tire delas.
– Não tem problema não, Beatriz. Foram muitos anos aqui, né? – Meu pai responde gentilmente, ainda que eu gostaria que não o fizesse – Eu e Carol temos que parar de deixar a chave debaixo do tapete. Somos danados para esquecer chave, aí acabamos deixando uma de garantia.
– Imagina! Eu que me distraí e achei que ela estivesse no quarto.
O susto que eu levei quando ela me ligou! – Responde Beatriz.
Adelaide me encara. Olha-me de tal jeito que torna-se difícil seguir com a solidariedade. Desvio meu olhar antes que pense em algo que faça o Padre Antônio pedir-me dez Ave Marias de penitência.
– O Doutor Afonso precisa saber disso… – Diz Adelaide, possivelmente ainda me encarando.
– Mamãe… – Mais uma vez Beatriz soa como meu pai, neste caso, quando me recuso a dormir cedo – A pobrezinha me ligou desesperada, falando que vocês tinham invadido a casa dela. Deve ter levado um baita susto vendo vocês dois entrando!
Por que é ela quem leva o susto? E o susto que a gente leva quando a vê, de novo, por aqui?
– Estamos atrasados. – Digo finalmente.
Meu pai toca minha perna dando-lhe dois tapinhas. Não sei se está me recriminando ou agradecendo.
– Hoje é aniversário da Carol, sabe? Aí a gente está tentando organizar uma festinha surpresa pra ela. – Diz, o que me faz perceber que seus tapinhas eram mesmo de agradecimento. Beatriz levanta-se do sofá, para meu alívio.
– É mesmo? Que coisa boa! – Pega a mão de Adelaide e a ajuda a levantar – Então vamos, né, mamãe? Já, já a Carol está chegando aí.
Meu pai também se levanta do sofá e eu o sigo, na esperança de adiantar ao máximo o processo de despedida.
– É, acho que em meia hora a missa acaba. – Diz, olhando o relógio na parede. – Inventei de confiar no meu irmão para trazer o bolo e a decoração, e agora estou aqui sem ter o que fazer.
– Fica tranquilo. Ele vai chegar agorinha, vai ver. – Beatriz responde, levando Adelaide, de braços dados, até a porta.
Diante da porta, Adelaide vira-se e observa Zeca, meu cachorro, lamber suas patas. Agacho-me e o pego no colo. A senhora agora volta a me observar com aquele mesmo olhar de antes. Desta vez encaro-a de volta. Sinto muito pela sua situação, mas nada disso é seu.

9.
Desde a janela da sala, observamos Beatriz e Adelaide retornarem à casa delas. Parte de mim temia que mamãe chegasse com elas ainda aqui, estragando toda a surpresa. A outra parte sentia-se incomodada pelo olhar de Adelaide. Sei bem como não lhe agradou a ideia de que estivéssemos habitando “sua casa”. Não só porque foi sua, mas também porque éramos nós.
– Ela vai ficar bem, pai? – Pergunto, ainda observando-as caminhar.
– Ela vai se esquecer disso – Responde-me, distraído.
– E a filha dela?
– Ela também vai se esquecer… – Diz, agora me olhando.
Abraça-me de lado. Percebo que, assim como para mim, algo silencioso aos ouvidos delas gritava-o.
– Parece que vamos ter que começar a organizar a sala sem o seu tio.
– Diz, no tom de voz de quando tomamos sorvete após uma discussão.
– Vamos lá! – Respondo, tentando convencer a nós dois do retorno de uma empolgação.
Caminhamos pelo corredor em direção à sala de estar. Meu pai me encara.
– Você sabe que merece tudo isso, né? – Pergunta-me.
– Sim, pai, eu sei – respondo.
E também sei de algumas coisas que a gente não merece.