Quando o agora soar pela terceira vez
Diogo da Costa Rufatto
uma das coisas mais expressivas
que um gaúcho pode dizer
além de bah e capaz
é
me caiu os butiá do bolso
assim mesmo
sem plural e com a concordância no singular
é gostoso comer os esse tudo
mineiros bem sabem e
acabam comendo mais ainda
do fim das palavras
de modo que é possível
que peito de frango
vire pei’di’frangu
agora me ocorre
experimentar comer
um esse do meio de uma palavra
será que perde o gosto?
PERDE O GÔ TÔ
não, em gauchês não ficou bom
vamos tentar com sotaque mineiro:
perrdi o go to
perdigoto
ficou mais bonitim
embora essa palavra seja meio dura
avessa à poesia, quiçá
embora de novo sejam eles os perdigotos
que saem das nossas bocas
quando dizem poemas
ou simplesmente quando conversam
e voam para superfícies desavisadas
embora pela terceira vez
sejam eles os perdigotos
que já não fazem mais sentido
qual a concessão
da concessão da concessão?
imagina na copa, ou melhor, imagina nas olimpíadas
ou melhor imagina mesmo se perdigotos perdessem
a inocência se tornassem tóxicos
infecciosos por causa de alguma coisa
sei lá, substâncias tóxicas bactérias venenos protozoários amebas
um vírus
agora me ocorre pensar
uma doença
altamente contagiosa, é claro
do tipo pandemia
do tipo que faz as pessoa tudo
ficarem em casa
isoladas, dese peradas
e cujo sintoma poderia ser
um entre muitos
poderia ser a falta de go to
e que seria tran mitida por um vírus
qual o plural de vírus?
e esse vírus ficaria na saliva
então as pessoas andariam de má cara
nas ruas não veríamos mais dentes
sorrisos por uma semana
dois meses três anos
agora me ocorre
o alívio de que meu poema
não tem essa força criativa