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A verdade no fundo do oceano

Renan Santos

Um mergulho fundo. Essa é a única forma de descrever o texto de Renan Santos, um escritor
que, guiado pelo entusiasmo à literatura, está à frente do Clube de Autores de Fantasia. No
texto apresentado aqui, Santos penetra a mente de uma pessoa (que pode ser um escritor, um
personagem ou até mesmo o leitor). Quem acompanha a submersão nas águas turbulentas da
mente do autor acaba por se deixar levar pelas palavras que buscam uma verdade escondida
(não poderia deixar de ser) no fim do oceano. A leitura é recomendada para quem quer inspiração
para olhar para dentro.

Naquele momento crítico , em que nada parecia
fazer sentido, ela resolveu investigar, pensar, analisar sistematicamente
sua vida, seus conceitos, suas crenças, seus gostos e desgostos,
seus defeitos e qualidades. Resolveu repensar sua essência. E para
isso precisava fazer uma análise profunda de si mesma, olhar sem
preconceitos para seu eu interior e sentir verdadeiramente sua alma.
E assim o fez.
Mergulhou profundamente no oceano de sentimentos e
ideias abstratas que existia dentro de si. Após muito tempo, chegou
ao mais profundo, escuro e gélido nível, onde habitava a mais pura
e simples verdade. Viu sua alma desnudada, como fora concebida,
imaculada, sem impurezas e preconceitos; sem trajes mundanos ou
máscara de sentimentos. Apenas sua alma, pura e simplesmente, o
ser humano em si, em sua essência mais primordial e divina. Aquilo
que viu foi ao mesmo tempo belo e assustador; simples e complexo;
misterioso e revelador. Totalmente universal e geral, mas ao mesmo
tempo estranhamente particular.
Aquilo era a verdade há muito tempo esquecida. Divina. Iluminadora.
Purificadora.
Sentiu-se bem com sua descoberta, e toda dúvida fora expurgada
de seu espírito.
Desejou gritar, escrever um poema, cantar a antiga canção.
Desejou amar, em todos os sentidos do conceito.
Quis compartilhar com o mundo sua descoberta, para que
todos os outros também sentissem a verdade em seus corações.
Mas ninguém a escutara. Estavam cegos, estavam surdos,
estavam loucos. Estavam corrompidos e maculados com dúvida, a
dúvida que dilacera o espírito e apaga a luz que brilha dentro de cada
ser. A incerteza que congela a chama que nos mantém vivos. A dúvida
cruel.
Perguntou-se por que não a escutavam, por que não entendiam,
por que não queriam entender.
Foi então que compreendeu: não poderia mostrar-lhes o
caminho. Cada um tem sua própria estrada, que deve trilhar sozinho
para alcançar a verdade, porque a verdade no âmago de cada espírito
é única e intransferível.
Compreendeu que cada um deveria mergulhar no próprio
oceano e vislumbrar a sua verdade particular.